Agroecologia e alimentação saudável: um olhar sobre o papel das sementes em territórios de reforma agrária

Autores

  • Andreia Cristina Matheus FEAGRI/Unicamp
  • Vitor Gonçalves da Silva FEAGRI/Unicamp
  • Vanilde Ferreira de Souza-Esquerdo FEAGRI/Unicamp

DOI:

https://doi.org/10.25059/2527-2594/retratosdeassentamentos/2024.v27i1.592

Palavras-chave:

financeirização. movimento dos trabalhadores rurais sem-terra. segurança alimentar. autonomia camponesa.

Resumo

A financeirização e o poder das grandes corporações transnacionais têm aumentado significativamente nas últimas décadas, resultando, de forma crescente, no controle de todo o sistema alimentar. Este artigo refere-se ao estudo com famílias camponesas do Quilombo Campo Grande, localizado no estado de Minas Gerais e organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. O objetivo foi analisar as estratégias adotadas pelas famílias quanto às sementes e a sua relação com a produção de alimentos e agroecologia. Orientado pela pesquisa qualitativa, as técnicas de coleta de dados contaram com o processo teórico e o trabalho de campo. A pesquisa de campo foi constituída por observação participante, vivências e entrevista semiestruturada. Argumentamos que o controle sobre as sementes é estratégico para a promoção da agroecologia e têm possibilitado a produção de alimentos com base na diversificação produtiva e na estratégia alimentar e econômica das famílias, ampliando a capacidade de resistência e autonomia.

Referências

ALENTEJANO, P. A Hegemonia do Agronegócio e a Reconfiguração da Luta pela Terra e Reforma Agrária no Brasil. Caderno Prudentino de Geografia, Presidente Prudente, v. 42, n. 4, p. 251-285, 2020.

ALTIERI, M. A., NICHOLLS, C.I. Agroecology Scaling Up for Food Sovereignty and Resiliency. Sustainable Agriculture Reviews, v. 11, p. 1-29, 2012.

ALTIERI, M.; TOLEDO, V. M. The agroecological revolution in Latin America: rescuing nature, ensuring food sovereignty and empowering peasants. The Journal of Peasant Studies, v. 38, n. 3, p. 587-612, 2011.

BANDEIRA, J. L. A geografia econômica das sementes: dos grandes monopólios ao sudoeste do Paraná. 2015. 183 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – UNIOESTE, Francisco Beltrão, Paraná, 2015.

BOMBARDI, L. M. Agrotóxicos e colonialismo químico. 1. ed. São Paulo: Elefante, 2023. 108p.

BORSATTO, R. S.; CARMO, M. S. O MST e a edificação de uma proposta de reforma agrária baseada em princípios agroecológicos. Retratos de Assentamentos, Araraquara, v.16, n.2, p.221-243, 2013.

BRASIL. Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Aprovações de plantas transgênicas até 2023. Disponível em: https://ctnbio.mctic.gov.br/. Acesso em: 2 jun. 2024.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Segurança alimentar e agricultura sustentável: uma perspectiva agroecológica. Ciência e Ambiente, Santa Maria, v.1, n.27, p.153-165, jul./dez., 2003.

CHESNAIS, F. A Finança Mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005.

CLAPP, J. The problem with growing corporate concentration and power in the global food system. Nature Food, v. 2, n. 6, p. 404-408, 2021.

CLAPP, J. The rise of financial investment and common ownership in global agrifood firms. The Journal of Peasant Studies. London, v.29, n.4, p.604-629, 2019.

CLAPP, J; ISAKSON, S. R. Risky Returns: The Implications of Financialization in the Food System. Development and Change, v. 49, n. 2, p. 437-460, 2018.

COCA, E. L. F.; ALVES, F. D.; PISANI, R. J.; SAMSONAS, H. P.; FERNANDES, F. B.; SOUZA JÚNIOR, S. A. B. A luta pela/na terra em tempos de instabilidade institucional: o acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio - MG. Boletim DATALUTA, Presidente Prudente, n. 31, p. 2-9, 2018.

COCA, E. L. F.; SANTOS, L. L. M.; SALVATERRA, J. R.; FREITAS, I. M. Quando para impedir a reforma agrária vale até destruir escolas: a direita autoritária contra o acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio - MG. Boletim DATALUTA, n. 151, p. 1-9, 2020.

CUNHA, F. L. Sementes da Paixão e as Políticas Públicas de Distribuição de Sementes na Paraíba. 2013. 184 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Práticas em Desenvolvimento Sustentável) – Instituto de Florestas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2013.

DATAINTELO. Agricultural Inputs Market Report: Global Forecast From 2023 To 2032. Disponível em: https://dataintelo.com/report/agricultural-inputs-market. Acesso em: 2 jun. 2024.

DELGADO, G. Do Capital Financeiro na Agricultura à economia do agronegócio: mudanças cíclicas em meio século [1965-2012]. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2012.

ETC Group. Campo Jurásico: Syngenta, DuPont, Monsanto: la guerra de los dinosaurios del agronegocio. Cuadernos Nº 115 del Grupo ETC, 2015.

FERNANDES, G. B. O pop do agro. In: SANTOS, M.; GLASS, V. (orgs.). Atlas do agronegócio: fatos e números sobre as corporações que controlam o que comemos. Rio de Janeiro: Heinrich Böll Stiftung, 2018. p. 22-23.

FIRMIANO, F. D. Conflitos Socioambientais no estado de Minas Gerais uma análise do ano de 2019. Revista de Ciências Sociais, v. 52, n. 3, p.135–179, 2022.

FIRMIANO, F. D.; CAPUCHINHO, M. N.; BRANT, N. L. C. Conflitos Socioambientais no Sul de Minas Gerais e a Luta e Resistência do Complexo Quilombo Campo Grande. In: BRUZIGUESSI, B.; BEZERRA, C. S.; CAPUCHINHO, M. N.; JESUS, N. M.; ALAGOANO, V. M. (orgs.). Questão Agrária e Políticas Públicas em Minas Gerais: Conflitos Sociais e Alternativas Populares, Juiz de Fora: Editora UFJF, 2021. p. 82-97.

GLIESSMAN, S. Defining Agroecology. Agroecology and Sustainable Food Systems, v. 42, n. 6, p. 599-600, 2018.

GONÇALVES, S. Campesinato, Resistência e Emancipação: O Modelo Agroecológico Adotado pelo MST no Estado do Paraná. 2008. 308 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Presidente Prudente, 2008.

HOLT-GIMÉNEZ, E. From Food Crisis to Food Sovereignty: The Challenge of Social Movements. Monthly Review, v. 61, n. 3, 2009.

IPES-FOOD. El COVID-19 y la crisis en los sistemas alimentarios: Síntomas, causas y posibles soluciones. Comunicado, 2020. Relatório 2017. Disponível em: https://www.ipes-food.org/_img/upload/files/COVID-19_CommuniqueES%281%29.pdf. Acesso em: 21 dez. de 2020.

ISAAA. ISAAA Brief 55-2019: Executive Summary Biotech Crops Drive Socio-Economic Development and Sustainable Environment in the New Frontier. International Service for the Acquisition of Agri-Biotech Applications, 2019.

KATO, K. Y. M; LEITE, S. L. Land Grabbing, Financeirização da Agricultura e Mercado de Terras: Velhas e Novas Dimensões da Questão Agrária no Brasil. Revista da ANPEGE, v. 16. n. 29, p. 458-489, 2020.

LÖWY, M. Crise ecológica, capitalismo, altermundialismo: um ponto de vista ecossocialista. In: Margem a Esquerda: Ensaios Marxistas. São Paulo: Editora Boitempo, 2010.

LVC. LA VIA CAMPESINA. La Via Campesina relaunches “Global Campaign for Seeds, a heritage of Peoples in the Service of Humanity”. Comunicado de imprensa 2018, Disponível em: https://viacampesina.org/en/16-october-la-via-campesina-relaunches-global-campaign-for-seeds-a-heritage-of-peoples-in-the-service-de-humanidade/. Acesso em: 15 jan. 2022.

MARTÍNEZ-TORRES, M. E.; ROSSET, P. La Vía Campesina: the birth and evolution of a transnational social movement. The Journal of Peasant Studies. Londres, v.37, n.1, p.149-175, 2010.

MINAYO, M. C. de S (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

MOHAMMAD, T.; CLAPP, J. Price Effects of Common Ownership in the Seed Sector. The Antitrust Bulletin, v. 66, n. 1, p. 39-67, 2021.

MONTENEGRO DE WIT, M. Beating the bounds: How does “open source” become a seed commons? The Journal of Peasant Studies, v. 46, n. 1, p. 44–79, 2019.

MST. Programa agrário do MST: texto em construção para o VI Congresso Nacional. São Paulo: Secretaria Nacional, 2013.

NIEDERLE, P. A; WESZ JUNIOR, V. J. As Novas Ordens Alimentares. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2018. 429p.

PLOEG, J. D. Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalização. 1. ed. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2008.

ROSSET, P. M.; MARTÍNEZ-TORRES, M. E. Agroecología, territorio, recampesinización y movimientos sociales. Estudios Sociales, v. 25, n. 47, p. 275-299, 2016.

SABADINI, M. de S.; CAMPOS, F. Imperialismo e Capital Financeiro. In: MELLO, G. M. de C.; NAKATANI, P. (orgs.). Introdução à Crítica da Financeirização: Marx e o Moderno Sistema de Crédito. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2021.

SEDA - Secretaria do Estado de Desenvolvimento Agrário (Alfenas, MG). Laudo Socioeconômico e produtivo das comunidades rurais da área da CAPIA, Campo do Meio - MG. Alfenas, 2018.

SEUFERT, P.; HERRE, R.; MONSALVE, S.; GUTTAL, S. (eds.). El capitalismo clandestino y la financiarización de los territorios y la naturaleza. Amsterdam: Fian International, Focus On The Global South, 2020. 125 p. Disponível em: https://www.tni.org/es/publicacion/el-capitalismo-clandestino. Acesso em: 15 abr. 2021.

SEVILLA-GUZMÁN, E.; SOLER MONTIEL, M. M. Agroecología y soberanía alimentaria: alternativas a la globalización agroalimentaria. Patrimonio cultural en la nueva ruralidad andaluza, Consejería de Cultura/Junta de Andalucía, 2010.

WEZEL, A.; BELLON, S.; DORÉ, T.; FRANCIS, C.; VALLOD, D.; DAVID, C. Agroecology as a science, a movement and a practice. A review. Agronomy for sustainable development, v. 29, n. 4, p. 503-515, 2009.

Downloads

Publicado

2024-02-01

Como Citar

Matheus, A. C., Gonçalves da Silva , V. ., & Ferreira de Souza-Esquerdo, V. (2024). Agroecologia e alimentação saudável: um olhar sobre o papel das sementes em territórios de reforma agrária. Retratos De Assentamentos, 27(1), 69-86. https://doi.org/10.25059/2527-2594/retratosdeassentamentos/2024.v27i1.592

Edição

Seção

Artigos Originais