O campesinato no “ramal da fome” paulista: contextualização histórica e transformações das atividades produtivas

Autores

  • Tiago Santi Universidade Federal de São Carlos
  • Helbert Medeiros Prado Universidade Federal de São Carlos

DOI:

https://doi.org/10.25059/2527-2594/retratosdeassentamentos/2022.v25i1.496

Palavras-chave:

Campesinato, Agricultura familiar, Sudoeste paulista, Histórico produtivo, Extensão universitária

Resumo

Conhecido como “ramal da fome”, o sudoeste paulista é uma das regiões menos desenvolvidas do estado, e das que apresentam as maiores discrepâncias entre pequenos e grandes produtores rurais. Este artigo discute aspectos socioeconômicos e históricos da região, bem como o perfil e o histórico produtivo dos seus produtores familiares nos últimos 70 anos. A partir de uma abordagem antropológica, foram realizadas entrevistas com indivíduos de nove propriedades nos municípios de Angatuba, Buri e Campina do Monte Alegre. Grosso modo, como resposta à modernização agrícola da região, o portifólio produtivo das famílias se diversificou até os anos de 1980, voltando a se especializar ao longo das últimas quatro décadas. Estratégias econômicas distintas entre as propriedades também foram observadas. Estas parecem estar relacionadas a múltiplos fatores (biofísicos, sociais e culturais) que atuaram em conjunto sobre as tomadas de decisão dos produtores. O histórico produtivo das famílias aqui registrado pode se constituir em importante subsídio às atividades de extensão do Campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos, assim como para a formulação de políticas públicas na região.

Biografia do Autor

Tiago Santi, Universidade Federal de São Carlos

Mestre em Sustentabilidade na Gestão Ambiental pela Universidade Federal de São Carlos (2020). Especialista em Administração Pública pela Universidade Candido Mendes (2017). Graduado em Publicidade, Propaganda e Criação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2010) e em Administração pelo Centro Universitário Internacional UNINTER (2018). Cursando MBA em Ciência Política: Relação Institucional e Governamental pelo Centro Universitário Internacional UNINTER. Atua como chefe da Seção de Comunicação Social do Campus Lagoa do Sino da UFSCar.

Helbert Medeiros Prado, Universidade Federal de São Carlos

Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003), mestrado (2008) e doutorado (2012) em Ecologia pela Universidade de São Paulo, com um pós-doutoramento na mesma instituição (2016). Atua como Professor Visitante junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia (IFCH-UFPA) e Professor colaborador junto ao Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Gestão Ambiental (UFSCar-Sorocaba). Tem experiência nas áreas de Ecologia Humana, Antropologia Ambiental, Etnoecologia e Ecologia de Fauna. Atua principalmente em estudos ecológicos e etnoecológicos no contexto de populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas, na Amazônia e na Mata Atlântica. Tem investigado sobretudo a interface entre os regimes locais e científico de conhecimento da natureza, bem como suas implicações para o campo das Ciências Ambientais.

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Publicado

2022-06-27

Como Citar

Santi, T., & Prado, H. M. (2022). O campesinato no “ramal da fome” paulista: contextualização histórica e transformações das atividades produtivas. Retratos De Assentamentos, 25(1), 136-168. https://doi.org/10.25059/2527-2594/retratosdeassentamentos/2022.v25i1.496

Edição

Seção

Artigos Originais